
Conheço o prefeito de Curitiba, há mais de 30 anos, desde que, em uma “greve encruada” daquelas, o então deputado estadual Rafael Greca de Macedo, auxiliou na reabertura de negociações entre o governo estadual e a APP-Sindicato. Na ocasião eu era assessor jurídico da diretoria da entidade que representa os professores estaduais, alguns deles estavam em greve de fome havia uma semana e temíamos pelo pior. Fizemos uma reunião com o deputado, brizolista à época, tarde da noite, no Restaurante Iguaçu, na praça Osório, perto da sede do sindicato, que ficava no Edifício Asa. Deu certo. O governo Álvaro Dias acabou voltando às negociações.
Desde então nos encontramos episodicamente, sempre nos tratamos com respeito, embora tenhamos estado em posições antagônicas em vezes excessivas. Ele é um político de centro, muito culto, ilustrado, profundamente católico, que caiu no gosto da direita curitibana. Atualmente encontra-se em seu quarto mandato como prefeito, depois de ter exercido vários mandatos parlamentares, desde vereador a deputado federal.
Rafael Greca é um patrimônio vivo da capital paranaense. Mesmo seus adversários eleitorais históricos, entre os quais me incluo, reconhecem seu profundo e devotado amor pela cidade. Admiro-o também por isso.
Nos encontramos ontem. Presenteou-me com um lindo livro com artistas paranaenses. Bem o jeito dele.
Coincidimos na recepção do governador ao Ministro Flávio Dino , meu amigo desde o tempo em que ele, mikitante do PT, ainda não tinha virado juiz federal. O ministro e sua equipe estiveram no Paraná para anunciar projetos de interesse do secretário estadual de Justiça, Santin Roveda, que gentilmente me convidou para recepcionar a comitiva do governo federal.
O assunto era, lá pelas tantas, a quantidade de ameaças e de atentados terroristas nas escolas. O Ministro relatava os esforços da Polícia Federal para monitorar dezenas de movimentos neonazistas que já foram identificados, quando todos nos preocupamos com uma notícia trazida pelo prefeito, com aquela sua peculiar entonação:
“Sabe, Ministro, fui despertado essa manhã com uma notícia intrigante. Um vereador conseguiu aprovar a cidadania honorária de nossa linda cidade para aquele tal de Olavo de Carvalho”. Exímio contador de histórias, fez aquela pausa para produzir movimentos de cenhos, evidenciadores de que havia capturado a atenção de seus interlocutores e despertado-lhes a curiosidade, antes de prosseguir. “Como nem a Câmara de Vereadores, nem a Prefeitura, são centros espíritas, não farei nada a respeito. Não vou sancionar ou sequer vetar a lei com esta estranha homenagem. Duvido que alguém esteja disposto a levar a honraria pessoalmente ao homenageado”. Rimos, demoradamente, nos divertindo com o brilhantismo da solução encontrada pelo prefeito para não contrariar sua base de apoio. De fato não existe cidadania póstuma.
Contou-nos, ainda, que ele e a Margarita, sua esposa, votaram no Lula, “jamais poderiam votar em Bolsonaro” e, ao tomarem esta posição, pública, influenciaram a maioria de seu secretariado. Uma figura! Roubou a cena. Brilhou mais que o ministro homenageado e que as demais autoridades públicas presentes ao almoço.
Combinei de fazer-lhe uma visita com a deputada Ana Júlia Ribeiro para lhe contar mais detalhes sobre o Museu da Lava Jato.
Xixo, 15 de abril de 2023.