Esse pequeno e contundente artigo do juiz do trabalho Rodrigo Trindade descortina o que a cegueira que tudo normaliza estava escondendo.
Esfreguemos esse artigo nas fuças daqueles que, imaginando-se de esquerda, não conseguem nem imaginar a possibilidade de relações de trabalho minimamente dignas para a produção dos vinhos, ruins e caros, no Rio Grande do Sul com utilização de mão-de-obra terceirizada, invisível, trazida de outros estados.
A iniquidade está na própria terceirização. A imprensa noticiou que as vinícolas escravistas pagavam à locadora de trabalho humano a quantia mensal de R$ 6.500,00 por empregado. A empresa terceirizada gastava menos da metade com cada nordestino escravizado. E quanto a isso não houve NENHUMA autocrítica por parte de NENHUMA vinícola, nem por NENHUMA entidade representativa do setor. É mais fácil imaginar o fim do mundo que imaginar o fim da exploração do trabalho humano pelos vinicultores gaúchos?
Nem me venham com o indefectível, indulgente e cúmplice, «nem todas as produtoras de vinho são escravistas». Digam o nome das empresas que vieram a público criticar as concorrentes escravistas. Não há. Prevaleceu a ética do bando de ladrões. Silêncio absoluto. Digam o nome das empresas cujos dirigentes não são fascistas e mostrem alguma evidência de que não sejam bolsonarentos como a maioria. Enquanto isso, reconheçam que a generalização é justa e merecida.
Os bolsonaristas da Serra Gaúcha se orgulham de se reconhecer como gringos. A escravidão, naquelas plagas, mais que branca, é gringa.
Xixo, 02 de março de 2023