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Guerras

A primeira guerra verdadeiramente mundial, a que não aconteceu apenas no centro capitalista, foi a Guerra Fria, a paz armada que impediu novas guerras em território europeu. O que chamamos de Primeira Guerra Mundial (1914/1918) não foi mundial, restringiu-se à Europa, assim como a chamada Segunda Guerra Mundial (1939/1945), que também aconteceu apenas na Europa, no oriente médio e no magreb.

Já a Guerra Fria, que foi efetivamente mundial, transferiu as mortes e a destruição para a periferia do centro capitalista, poupando os europeus que viveram sob guerras desde sempre. De fato, durante a Guerra Fria a Europa viveu seu mais longo período de paz (de 1945 a 1989) eis que as guerras aconteciam na Ásia, na África e na América Latina, seja na forma de conflitos entre países, seja na modalidade de guerras de insurreição, guerras civis, ou guerras internas contra-revolucionárias pela imposição de ditaduras militares servis aos interesses capitalistas contra suas próprias populações civis.

A Europa só voltou a sofrer as consequências de guerras após o fim da União Soviética. Primeiro nos Balcãs, depois do outro lado do Mar Negro (Geórgia) e agora em sua margem setentrional (Ucrânia). Em todas elas os EUA estão diretamente envolvidos.

As guerras são negócios. O custo de um único míssil poderia saciar a fome de milhares de pessoas por vários dias. A guerra da Ucrânia já consumiu, em um ano, três vezes mais recursos europeus que os destinados a auxílio humanitário. E tem muita gente lucrando com isso.

Deparei-me hoje, no feice do Paulo Follador com o texto abaixo. Espiem e comentem.

« GUERRAS
por Roberto Xavier

Depois de um ano da invasão russa à Ucrânia, segundo os principais líderes europeus reunidos na Conferência de Segurança de Munique e na Assembleia Geral da ONU é preciso evitar que o conflito entre Rússia e Ucrânia evolua para u 3ª Guerra Mundial. Desculpa, mas não é bem isso.
Esperamos que não evolua, mas não seria a 3ª Guerra, muito menos seria mundial. Sempre é preciso evitar as guerras, mas essa seria a 12ª Guerra Europeia desde o inicio do século passado e não a 3ª Guerra Mundial.
Até 1939 a 1ª Guerra Mundial não era conhecida dessa forma. Era conhecida como a Grande Guerra ou a Guerra das Guerras porque, strictu sensu, não era um conflito mundial. Mesmo a 2ª Guerra Mundial quando muito envolveu essas mesmas potências europeias que lutavam na Europa em alguns conflitos em territórios do Pacífico e da África.
O fato ser conhecida, até o início da 2ª Guerra, como a Grande Guerra deve-se ao fato da Europa nunca ter sido um território propriamente pacífico e que até o início do século XX houve dezenas de ‘pequenas’ guerras entre as nações e diversas guerras civis.
Também, segundo alguns historiadores não é totalmente correto dizer que há uma divisão entre essas duas grandes guerras. O que houve, segundo eles, foi uma guerra única de 1914 a 1945 com um longo armistício entre 1918 e 1939.
Primeiro porque, apesar do fim dos combates, a tensão entre os contendores nunca cessou completamente e segundo porque no retorno dos conflitos, eram praticamente os mesmos grupos de nações que se colocavam em lados opostos defendendo seus interesses.
Já o entendimento do historiador marxista britânico Eric Hobsbawm é um pouco diferente. Ele defende em seu livro “Era dos Extremos. O breve século XX (1914-1991)” que a Guerra Fria pode ser encarada, razoavelmente, como uma Terceira Guerra Mundial, embora tenha sido uma guerra muito peculiar, sem conflitos armados, pelo menos em solo europeu.
O argumento de Hobsbawn baseia se no entendimento do filósofo, também britânico, Thomas Hobbes que diz que “a guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar; mas num período de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida”.
Portanto, essa guerra entre Rússia e Ucrânia nem de longe pode ser considerada como uma 3ª Guerra Mundial, sobretudo porque não tem potencial para arrastar outras nações europeias para o campo de batalha, dado o poder de dissuasão nuclear russo, limitando suas participações ao fornecimento de armas e equipamentos e sanções comerciais. Muito menos de provocar o envolvimento militar, afinal é disso que se trata uma guerra quando falamos objetivamente, de outros continentes.
Nem China, nem EUA vão se meter nesse conflito, para além das questões comerciais envolvidas, da construção de narrativas ou dos seus próprios posicionamentos como polos hegemônicos no cenário do pós-guerra, mas ambos irão lucrar muito com ele, diferentemente de Rússia e Ucrânia.
Por fim, temos que entender que o estado natural da Europa é a guerra e não a paz. Até o início da Guerra Fria foram 5 conflitos envolvendo países europeus, excluindo-se as Guerras Mundiais: Guerra dos Balcãs (1912 – 1913), Guerra Civil Russa (1917 – 1923), Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939), Guerra da Continuação (1941 – 1944) e Guerra da Lapônia (1944 – 1945) e outros 6 com o fim da União Soviética e da Guerra Fria: Guerra da Bósnia (1992 – 1995), Guerra da Chechênia (1994 – 1996), Guerra do Kosovo (1996 – 1999), Guerra da Chechênia (1999 – 2000), Guerra Russo-Georgiana (2008), Guerra em Donbass (2014- 2022).
Ou seja, só durante os 45 anos da Guerra Fria e graças a existência da URSS, os europeus podem dizer que tiveram um período de uma relativa paz no continente. Uma paz muito relativa e bastante armada, diga-se, e com a transferência dos seus conflitos políticos e ideológicos para outros continentes.
Então, esse discurso pacifista da Europa atual a mim não convence. Nem um pouco. »

Vamos conversar seriamente sobre essa e sobre as outras guerras em andamento na atualidade ?

Xixo, 25 de fevereiro de 2023.

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